7.1 Matrizes
Uma matriz é um arranjo de escalares, onde é o número de linhas e é o número de colunas.
No exemplo a seguir, é uma matriz de tamanho , isto é, é uma matriz de 3 linhas e 4 colunas:
Cada elemento de é denotado por , onde é a linha, e é a coluna do elemento da matriz:
Matriz transposta
A transposta de uma matriz de tamanho , denotada por , é uma matriz de tamanho obtida trocando as linhas pelas colunas.
Por exemplo, se
então
A transposta da transposta é a matriz original, isto é,
Matriz quadrada
Uma matriz quadrada é uma matriz na qual o número de linhas é igual ao número de colunas ().
Se é uma matriz quadrada de linhas e colunas, dizemos que é uma matriz de ordem .
Por exemplo,
é uma matriz de ordem 3.
Matriz linha/coluna
Uma tupla de elementos pode ser representada por uma matriz (matriz linha) ou (matriz coluna).
Para matrizes linha e matrizes coluna, usaremos a notação de letra minúscula em negrito , como na notação de vetor.
Para trabalharmos com transformações matriciais, usaremos matrizes coluna para escrever a representação de vetores em uma base conhecida.
Por exemplo, a representação de um vetor no pode ser escrita pela matriz de componentes
sendo que
Matriz identidade
A matriz identidade, denotada por , é uma matriz quadrada na qual todos os elementos de uma das diagonais – elementos em que , chamada de diagonal principal – são , e todos os outros elementos são .
Por exemplo, a matriz identidade de ordem 3 é a matriz
A matriz identidade é o elemento neutro da multiplicação entre matrizes:
Operações
Há três operações básicas com matrizes:
Adição de matriz com matriz:
tem como resultado uma matriz que contém a soma elemento a elemento de e , sendo que e precisam ter o mesmo tamanho.
Por exemplo, se
então
Essa operação é comutativa e associativa:
Multiplicação de escalar com matriz:
tem como resultado uma matriz na qual cada elemento da matriz é multiplicado pelo escalar .
Por exemplo, se
então
Essa operação é distributiva e associativa:
Multiplicação de matriz com matriz:
ou
é definida apenas quando o número de colunas de é igual ao número de linhas de .
Se é uma matriz , e é uma matriz , então é uma matriz de tamanho tal que
Desse modo, o elemento (elemento da -ésima linha e -ésima coluna de ) será o somatório da multiplicação elemento a elemento da -ésima linha de com a -ésima coluna de .
Por exemplo, se
então
Embora a multiplicação entre matrizes seja associativa,
na maioria das vezes não é comutativa, isto é,
Os casos em que são casos especiais como, por exemplo, quando (veja definição de matriz inversa a seguir), ou quando a matriz é multiplicada pela identidade.
Se e são representações de vetores
a multiplicação da transposta de por tem como resultado o produto escalar entre os vetores:
Da mesma forma, podemos definir a norma euclidiana de como
Matriz inversa
Se, para uma dada matriz quadrada , existir uma matriz tal que , então é a inversa de , denotada por :
A inversa da inversa é a matriz original, isto é,
Se uma matriz possui uma inversa, dizemos que a matriz é inversível ou não singular. Caso contrário, dizemos que a matriz é singular.
Uma matriz é inversível apenas se seu determinante, denotado por ou for diferente de zero.
O determinante de uma matriz de ordem pode ser definido recursivamente como uma soma ponderada de determinantes de submatrizes de ordem (teorema de Laplace):
onde , chamado de determinante menor de , é o determinante da matriz de ordem obtida através da remoção da linha e coluna de . Nessa expressão, é chamado de cofator do elemento e é denotado por . Para matrizes de ordem 2 e 3, o procedimento é suficientemente simples e é mostrado a seguir:
Para uma matriz de ordem 2,
Para uma matriz de ordem 3,
A complexidade de tempo para calcular o determinante por este método é . Isso só é rápido para matrizes de ordem até 5. Há soluções mais eficientes para matrizes de ordem mais elevada, como o uso de decomposição LU ou eliminação de Gauss, com complexidade . Entretanto, como usaremos matrizes de ordem até 4, o método anterior é suficiente.
A matriz inversa de uma matriz inversível pode ser calculada como
onde , chamada de matriz adjunta de , é a transposta da matriz de cofatores de . Isto é,
Em computação gráfica, frequentemente podemos evitar o uso de métodos numéricos de inversão de matrizes pois muitas matrizes representam transformações inversíveis através de um raciocínio geométrico. Por exemplo:
- Se uma matriz representa uma rotação de graus em torno do eixo , então sua inversa é uma matriz que representa uma rotação de graus em torno do eixo ;
- Se uma matriz representa uma translação pelo vetor , então sua inversa é uma matriz que representa uma translação pelo vetor .
- Se uma matriz representa uma mudança de escala por um fator , então sua inversa é uma matriz de mudança de escala por um fator .
Abordaremos essas e outras matrizes de transformação na seção 7.4.
Matriz ortogonal
Uma matriz é ortogonal se
isto é, sua transposta é também a sua inversa:
As linhas e colunas de uma matriz ortogonal formam uma base ortonormal.
Por exemplo, as matrizes
com colunas formadas pelos seguintes vetores da base padrão do ,
são matrizes ortogonais.
o determinante de uma matriz ortogonal é sempre ou .
Propriedades
As seguintes propriedades se aplicam:
.
.
.
Observe como a ordem dos fatores é trocada. No caso geral,
.
.
No caso geral, para um conjunto de matrizes inversíveis,
.
Transformação
Seja uma matriz coluna que representa um vetor no . A transformação , que transforma em uma nova representação , pode ser escrita como
onde é uma matriz quadrada de ordem chamada de matriz de transformação.
Toda matriz de transformação de ordem representa uma transformação linear em .
Uma transformação linear é um mapeamento entre dois espaços vetoriais de tal modo que as operações de adição de vetor com vetor e multiplicação de vetor com escalar são preservadas, isto é,
para quaisquer vetores , e quaisquer escalares e . Como resultado, a transformação do vetor representado por é equivalente à combinação linear da transformação da base do vetor:
Se , temos
Essa expressão pode ser representada na forma matricial:
Logo, a matriz que transforma
para
é uma matriz de mudança de base, e é construída fazendo com que suas colunas sejam os vetores da base transformada.
O vídeo a seguir, do canal 3Blue1Brown do Youtube, apresenta de forma visual o conceito de transformação linear e sua relação com a operação matricial. O áudio está em inglês, mas há legendas em português.
Este vídeo faz parte de uma excelente série de vídeos sobre fundamentos de álgebra linear. O conteúdo permite compreender de forma intuitiva os principais conceitos vistos até agora. A maioria dos vídeos possui legendas em português.
Além de transformações lineares, matrizes podem representar também outras transformações, tais como:
- Transformação afim: para a translação de pontos;
- Transformação projetiva: para projeção perspectiva.
Essas transformações podem ser representadas por transformações lineares em um espaço de dimensão adicional. Por exemplo, uma transformação afim no pode ser representada por uma matriz de transformação linear no . Veremos como fazer isso na seção 7.2.